terça-feira, 25 de agosto de 2009
Inaugurado o 1º Terreiro de Umbanda no Presídio Romão Gomes
Uma conquista inédita!
Todos os cultos têm direitos definidos pela Constituição.
Sr. Antonio Moreira César. Detido no Presídio Romão Gomes por dois anos e meio. Assim que foi recolhido, percebeu que, por ser ligado à Umbanda, não havia local específico para cultuar sua crença, apenas locais destinados ao culto evangélico. No início, o único lugar em que teve o devido respeito para celebrar sua religiosidade, foi dentro do banheiro, através de seus banhos e orações. Grande era a discriminação que sofria, pois o viam como um adorador do demônio. Com o passar do tempo, ele começou a provar que, sua religião, apesar de se comunicar com o Criador, de maneira própria, merecia também respeito. Ao passar para o segundo estágio, passou a receber velas, que eram acesas no espaço da quadra de esportes, uma vez na semana. Até que surgiu um outro companheiro religioso, que começou a acender velas com ele no mesmo local. Antonio foi chamado à diretoria para se explicar com relação ao ocorrido. Mencionou que não tinha local para prática de seu culto. A partir daí, lhe foi concedida uma área fora do prédio do Romão Gomes, no mesmo terreno, com barrancos e chão de barro, a primeira vista inadequado para suas necessidades. Mas Antonio não desanimou.
Foram fornecidos seis blocos e atualmente o altar conta com cerca de dois metros de altura. O primeiro teto do terreiro foi uma árvore (mangueira), que protegia da chuva. Atualmente conta com lonas. Já tem pontos de luz e não mais é preciso cultuar no escuro. As datas dos cultos são fixas e até um atabaque foi incorporado ao terreiro. Antonio já não está mais recluso no Presídio Romão Gomes desde o início de setembro deste ano, mas há notícias de que a pessoa deixada por ele para cuidar do local, continua se empenhando e realizando os cultos. Ele se diz Filho de Santo e não Pai de Santo e sentiu-se na obrigação de zelar por esse espaço religioso. Antonio diz que esse é o único terreiro dos 144 presídios existentes no estado de São Paulo e que é também o único terreiro que não se pode ter filho: “Filho ali está de passagem. Ele só fica para tomar um pouco de axé, e depois vai embora. Nos outros locais há muitos adeptos da umbanda e do candomblé, que correm para os braços dos pastores, uma vez que necessitam de assistência espiritual.” O nome dado ao terreiro é Tenda de Umbanda Ogum Rompe Mato regido por Ogum da Guerra. Quem passou a liderar os cultos foi a Mãe Lourdes de Ogum, que segundo Antonio, foi enviada pelas entidades, mas com dificuldades de transporte, ela ocasionalmente comparece às giras. Ele se diz feliz, por ter pago o que devia à sociedade, e por ter deixado um legado para quem vier a precisar de assistência religiosa. Por fim desabafou, revelando momentos desagradáveis, como por exemplo, comer sem que ninguém se sentasse à mesa com ele, ou sequer lhe dirigisse a palavra, por ser macumbeiro, uma vez que havia vários turnos de refeição e os demais discípulos tinham horários diferenciados. Foi uma batalha, que terminou de forma positiva, que desafiou uma maioria e que mostrou quem realmente são os verdadeiros guardiões. Cercado por hortas que complementaram as instalações, o terreiro agora está plantado e vivo. O NAFRO-PM/SP pretende auxiliar no crescimento desta conquista, ou melhor deste terreiro, sem se envolver com o dia-a-dia do presídio e de seus detentos.
fonte de autoria do "Jornal A Gaxéta" e publicado em edição escrita de n° 39, no mês de outubro de 2008.
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